É estranho demais quem me tornei


(foto da Estrada de Santos)

Belo início, começar com um título desses: é estranho demais quem me tornei hoje.
Revisitando meus antigos poemas, cartas de amor e fotografias, comparando com quem hoje sou é inevitável pensar: Estranho, muito estranho.
Sonhos de amor, vida que jamais iria ter sentido se não tivesse o meu grande amor romântico, lembro que até uns 3 anos atrás eu ainda buscava por um sentindo romântico.
A romântica incurável, nem o tratamento mas destratado afastou a possibilidade.
Não adiantava sofrer, comer o pão que o diabo amassou, o importante era ter o amor, o homem cálido, o chaveiro masculino pra andar por aí e chamar de seu.
Pouco importava ser maltratada, levar uns apertões de um alcoólatra louco metido a artista, ou ser empregada doméstica sem remuneração de um babacóide interesseiro, o importante era ter um homem pra chamar de seu, mesmo que seja um escroto.
E a vida? Vai se atrasando, ficando pra trás, as contas ficando por pagar. Carreira? Pra quê? eu tenho macho! 
Maus tratos, ganhei muitos troféus de vítima, eles foram se acumulando num quartinho de bagulhos cheio de teias de aranha.
Eu só não tinha percebido que junto dos troféus estavam estátuas de cada um que me fez ganhar os malditos.
Eram muitos e eu estava sozinha, sem meu macho. 
O mundo começou a ficar hostil eu precisei fazer o que tanto adiava.
Após quase 4 décadas precisei olhar pra mim, não gostei do lugar que me coloquei.
Cadê o meu macho? Me disseram que pra eu ser bem sucedida eu só precisava de emprego, filhos e um macho. 
Eu tava sozinha, com uma filha, sem carreira e na merda, eu tava na merda, sem amor próprio, sem brilho.
Doar-se demais e esquecer de si é ruim demais, por isso que dizem que até pra doar você precisa ter amor próprio, por isso dizem que para amar o próximo deve ser como a si mesmo.
Porra, cadê o meu macho? Ele que se foda, se foda pra valer.
Olhei pra baixo e em poucos semestres, 7 pra ser mais exata, eu já tinha subido alguns degraus e conseguia olhar pra eles do alto
Ainda tinha muito degrau pra subir o tanto que faltava em cima era o que eu via quando olhava pra baixo, aqui já estava bem confortável
Eu sofria agora, os sofrimentos comuns: contas pra pagar, a falta de vontade de acordar cedo pra ir pra estágio, a loucura de ter que ir pro estágio, estudar pra duas provas e aprender a dirigir, tudo dentro de 24 horas.
Estudar pra provas de concursos de estágios pra poder complementar até o fim do curso da nova carreira, já que o primeiro já estava encerrando, passar em dois, esperar ser chamada (que angústia) levar pau na prova prática do CNH, chorar por dois dias seguidos e sair do choro como se nada tivesse acontecido e cheia de uma autoconfiança particularmente estranha de ser ter após rios de lágrimas (a pessoa é bipolar)
Porra, cadê o macho? Eu esqueci...
Estou tão cheia de mim, tão completa de vários eus existindo e sendo eu, que eu esqueci. Não há espaço...
Percebo que entendi, nunca precisei de alguém pra ser completa, eu já era e sou inteira, até nas partes sombrias, dona de uma beleza interna que só eu sei admirar, e só eu me basta.
Aqui de cima, olhando pra eles, são tão pequenos, tão minúsculos.
Era sempre eu, sempre eu comigo desde criança, eu me olhava nos olhos e sabia que eu ia me orgulhar da mulher que eu iria me tornar.
Foi só um desvio no percurso, um desvio que me levou pra uma estrada cheia de buracos, mas já voltei pra BR, nessa BR não tem buracos e meu carro (vida) segue com uma fluidez perfeita!
(Musica na cabeça - As Curvas Da Estrada de Santos - Roberto Carlos)



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